Eu fui a muitos lugares nos últimos três anos. Em um desses, minha primeira viagem sozinha, conheci dona Zezé. Senhora humilde, com maço de Marlboro na mão, falava pelos cotovelos — com um ar não-ofegante cujo eu não sabia como desprendia-se dos pulmões pretos — e adorava um pagode.
Era noite no Verolme, quase carnaval. Com um santo cachorro quente de podrão, sentei numa mesa de barzinho e tardaram uns 5 minutos para que ela, toda eufórica, se apresentasse.
"Ô, boa noite! Você tem isqueiro?"
Eu, no auge dos 15 anos (não que isso signifique algo), dei um risinho e respondi que não.
A moça do podrão atendeu ao desejo do ícone senil, que por sua vez, pediu licença e sentou-se na minha mesa sem cerimônia. Falou do filho que levou a namorada para apresentá-la e passar um tempo na casa, mas depois de um tempo descobriu que só tinha ido lá roubar um rádio; depois da filha, que já estava noiva mas se casaria longe dali; lembro de ter comentado algo acerca de futebol que assumo só me recordar por ser flamenguista, e por aí foi.
Chuto que tenhamos nos falado por uma hora ou um pouco menos, mas pediu que quando fosse ao Verolme de novo, chamasse por ela na última janela do prédio.
Ainda não voltei.
Pensei esses dias em dona Zezé e decidi escrever a adorável crônica — talvez por força do Kerouac acordado em mim — embora tendo outras histórias pra contar.
Entre dois anos e meses, uns cachorros-quentes e meias taças de vinho, me perdi e me achei (não filosoficamente, realmente precisei do google maps) em lugares bons demais pra não contar.